O Mundo aos olhos de uma menina de 30

A menina que não sabia ler

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Uma vida secreta. Desafios sucessivos e enfrentamentos em nome do amor.

Autor: John Harding

N° de páginas: 288

Editora: Leya

Tradução: Elvira Serapicos

Título original: Florence and Giles

Ficção: Literatura inglesa

Os irmãos Florence e Giles vivem em uma decadente mansão, sob os cuidados da sra. Grouse. Administradora da casa e dos demais funcionários, faz o que pode com os pouquíssimos recursos enviados pelo negligente tio das crianças. Este, por sua vez, apesar de não se importar com os sobrinhos proíbe com veemência que Florence seja alfabetizada – mantém opiniões rígidas em relação à educação das mulheres – tornando os dias na mansão cada vez mais tediosos e desinteressantes.

Mas existem coisas que não podem ser controladas e o encontro da jovem com o Mundo literário, tornou-se inevitável. Inesperadamente, ela descobre a biblioteca proibida da mansão e apaixona-se por ela. No entanto, não será fácil esconder o encanto pelos livros, principalmente após a chegada da nova preceptora a srta. Taylor, destinada a lecionar Giles agora com idade suficiente para estudar. Florence precisara de soluções astutas, corajosas e nem sempre fáceis para proteger o irmão e o seu sagrado: a biblioteca.

 Até onde você iria para defender algo ou alguém que ama? Florence certamente nunca se limitou…

Ter uma vida secreta exige muita sagacidade da pobre Florence, mas ninguém nunca lhe disse que será fácil. Cronometrar o tempo, contar com a sorte, fingir crises de sonambulismo, ter poucos amigos confiáveis – ou nenhum – amar incondicionalmente o irmão e protege-lo a qualquer custo, faz parte da nova rotina da jovem. Os dias, que antes se arrastavam e eram tediosos agora estão preenchidos de novidades e surpresas. Nem sempre boas, como quando o detetive da cidade apareceu para fazer perguntas a Senhorita Florence ou ainda a descoberta do verdadeiro motivo pelo qual o tio a priva de uma boa educação.

Mesmo com tantas proibições, sua ousadia e determinação para promover o próprio acesso aos livros entre outros enfrentamentos, é motivadora. Me fez questionar o quanto menosprezo as facilidades que tenho. O que me impede de ler um livro? Um artigo, um gibi ou a bula do meu próprio remédio? O que me trava diante da busca pelos meus objetivos? Senti vergonha diante de Florence e quis desculpar-me com um abraço ou quem sabe presenteando-a com um livro novo… um tanto utópico, reconheço. Entretanto, deixando de lado a utopia o que tenho feito efetivamente desde então é aproveitado melhor o tempo. Tanto com os livros – que se tornaram ainda mais próximos – quanto com os meus afetos.

Acredito que a sua busca desenfreada por conhecimento está ligada ao fato de ser a sua única conexão com o Mundo – fora dos muros da mansão Blithe – lendo, aprende a enxergar através dos livros. Sabe que existem pessoas boas e más, finais felizes e infelizes. Desse modo, pôde prever o que aconteceria com Giles quando foi levado para estudar no internato. Seu coração partiu de preocupação e dor:

“Como ele se sairia sem a minha proteção? Apesar de não ter experiencia com garotos, eu sabia pelas minhas leituras como eram cruéis uns com os outros principalmente em internatos.’’

(John Harding – 2010, pág. 22)

Subjetivamente o autor leva o leitor a inúmeras reflexões. O livro retrata – mesmo que de forma subliminar – o quanto o conhecimento e a educação são relevantes e transformam o modo de vida dos indivíduos e ou do meio em que vivem. Modificando o seu olhar, pensamentos e comportamento. No entanto, não posso deixar de mencionar que o autor mostrou – se indiferente em relação a postura retrógada, preconceituosa e negligente do tio de Florence e Giles. Acreditava que com o desenrolar da história, diante da postura corajosa da protagonista ele – o tio – seria de algum modo, cobrado por tais atitudes ou até mesmo penalizado. Porém, isso não ocorre efetivamente. Talvez seu castigo seja continuar preso ao passado que o atormenta e o torna cada vez mais amargo.

Apesar de ter um núcleo infantil em seu enredo A menina que não sabia ler, não é um livro para crianças. A complexidade e o destino da trama, deixa claro que foi destinada a um público adulto, consciente ou ao menos aberto a reflexões à luz de toda a temática descrita nessa obra. Definitivamente é uma aventura que desperta no leitor o desejo de arriscar-se. Principalmente em nome daquilo que ama ou acredita.

Leia! Descubra o quanto você já se arriscou. Crie asas na companhia de Florence, voe para conhecer de perto os segredos da mansão Blithe. Mas por favor, volte aqui pra me contar até onde você voou.

Millane Martinelli

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